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Hoje venho por meio desta publicação sanar a sua curiosidade e testar as minhas habilidades de escrita e conhecimento teórico em torno da literatura brasileira.
Pela
manhã tive a brilhante ideia de fuçar nas gavetas e por acaso
encontrei o que seria o material ideal para esta postagem. Encontrei
em meio aos meus pertences uma avaliação de Literatura Brasileira
realizada no dia 09/09/2013, em que felizmente fui muito bem. Desta
forma, logo senti vontade de escrever e comentar sobre o conteúdo da
prova.
Eu
cursava o 4º ano e nos foi aplicado um teste, em que deveríamos
tecer comentários sobre os conteúdos: "a poesia de João
Cabral de Melo Neto; a poesia concreta; e Vestido de Noiva, de Nelson
Rodrigues. Como podíamos escolher na primeira parte da prova a
questão que iríamos responder, dentre as que estavam lá, escolhi
comentar sobre a presença dos três planos (da alucinação, da
memória, da realidade) em Vestido de Noiva, de Nelson Rodrigues,
ressaltando o que predomina em cada um e como eles se relacionam na
construção da peça.
Então,
atendendo a proposta acima, podemos dizer que a obra "Vestido de
Noiva" de Nelson Rodrigues marca o início do teatro moderno no
Brasil, pelo trato com a linguagem e sua forma inovadora, causando
muita polêmica e grande revolução no cenário teatral brasileiro.
A
obra de Nelson Rodrigues é revolucionária e se destaca tanto pelo
uso
da
linguagem, como também pelo fato de situar a peça e todos os fatos
narrados no plano pscicológico da consciência e subconsciência da
personagem Alaíde.
Pode-se
dizer que a obra se concretiza por meio de três planos: o
da Alucinação. Da Memória e também o da Realidade. Todos esses
planos se intercalam e se sobrepõem uns aos outros da mesma forma
como se dão os pensamentos e a memória de Alaíde, construindo o
espaço, no qual a narrativa se desenrola. Não há uma linearidade
propriamente dita, pois o teatro segue assim como se dá o fluxo de
consciência da personagem.
No plano da Realidade, podemos ver que Alaíde está passando por um
processo de mortificação, em estado de delírio. Assim, todos os
fatos narrados acontecem na cabeça de Alaíde, que possui neste
momento, uma mente em estado de desagregação. De
acordo com o enredo, no plano da Realidade temos Alaíde sendo
atropelada e no da Alucinação temos o encontro entre Alaíde e
Madame Clessi. Já no plano da Memória, podemos observar as memórias
de Alaíde que são fragmentadas.
O
enredo desta peça se desenvolve por meio da intercalação destes
planos. É este manuseio atípico da ação que torna o “Vestido de
Noiva” de Nelson Rodrigues, uma peça altamente inovadora para a
dramaturgia nacional.
Alaíde
é aquela mulher que quer se reafirmar como mulher, roubando os
namorados da irmã. É claramente notável a fragilidade desta
personagem em realação aos ideias da época. Podemos dizer que
Alaíde é bastante imatura e insegura e suas atitudes funcionam como
uma válvula de escape da solidão e do vazio interior criado pela
própria personagem.
Durante a peça, notamos que Alaíde é
constantemente atormentada pela culpa e toda a repressão feminina da
época
torna
ainda mais densa essa culpa que a personagem sente, pois naquele
tempo a mulher só poderia atingir o sexo apenas sob duas formas, ou
pelo casamento, ou pela prostituição. Diante
disso, entendemos que para Alaíde o maior modelo de liberdade e
transgressão se dá na figura de Madame Clessi, uma antiga
prostituta de luxo, em quem Alaíde se espelha.
Diante
da complexidade do enredo, que se ocupa de mostrar as mazelas
humanas, podemos dizer que o teatro de Nelson Rodrigues é altamente
desafiador por não apresentar uma solução ao leitor ou espectador,
mas ao contrário, esta obra provoca a serenidade do seu destinatário
e
o desestabiliza, ao passo que o obriga a prestar participação, pois
a genealidade desta obra está no fato de ela ser interativa, ao
passo que para se chegar a qualquer conclusão é necessário aceitar o desafio proposto pelo autor, decifrando o que propõe cada plano
da consciência de Alaíde e preenchendo cada lacuna apresentada no
texto com as próprias concepções e experiências de vida, já que
esta é uma narrativa aberta e de cunho psicológico.
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